quinta-feira, 9 de abril de 2015

A Medicina dos Sintomas - Gilson Dantas






O livro pretende examinar a seguinte questão: desde os exames sofisticados e invasivos até o tratamento, não estaríamos, atualmente, diante de uma medicina que ajuda a cronificar a doença e também, muito pouco preocupada com prevenção e, quase nunca focada em atacar as causas da doença? Não estaríamos diante da medicina que, abusivamente, medicaliza a saúde e que concebe a doença como um ser abstrato, um ente desconectado do corpo, e pensa o paciente descolado do seu estilo de vida e fatiado em órgãos e partes?Autor: Gilson Dantas
Na atual medicina, as queixas ou sofrimentos das pessoas enfermas são vistos - e, como decorrência, manejados - em termos mecanicistas, quase em uma tentativa de ´patologizar´ o paciente”. E acontece que nenhuma hipertensão é apenas uma hipertensão e nenhuma bursite é apenas uma inflamação do ombro. Essa maneira de pensar é perigosa para o paciente e empobrecedora do ponto de vista médico. No entanto, no método de pensar do médico alienado, o chamado enfermo terminará
sendo reduzido a pouco mais que uma hipertensão, uma próstata, uma inflamação no ombro.
Ao mesmo tempo, provavelmente o médico não irá entrar em uma parceria ativa com aquela pessoa para discutir por que você, pessoa singular, apresenta uma pressão arterial elevada.
Que processos orgânicos e de vida levaram à sua hipertensão, por exemplo.
O médico alienado, no entanto, estará preocupado em suprimir sintomas, tornar você dependente de drogas, e muito pouco em buscar saber qual o processo de fundo que precisa ser corrigido e que levou àquele sintoma ou doença.
Ele não quer saber se é deficiência de magnésio, se é uma dieta que compromete a fluidez do sangue, se o estresse crônico no trabalho é crucial, se sua hipertensão é efeito colateral do uso de medicamentos para outras doenças e por aí afora.
E quanto aos elementos do seu entorno, tende, solenemente, a ignorá-los. Ele vai medicar a hipertensão. E ponto. Ele se comunica apenas com o sintoma e com os laudos de exames invasivos.
O objetivo deste livro é problematizar tais questões e tematizar a necessidade imperiosa de uma mudança. Que passa pela revolução social na perspectiva dos trabalhadores. Mas que cobra, ao mesmo tempo, uma revolução no modo de pensar e fazer medicina, para que esta rompa com sua condição atual, de medicina dos sintomas e dos laudos e assuma, finalmente, sua vocação como como medicina da saúde, medicina social e não da doença, e renuncie a funcionar como paliativo de um sistema social degradado e desigual e que a própria medicina, alienada como está, faz o possível para isentar e naturalizar.


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