O livro pretende examinar a seguinte questão: desde os exames sofisticados e invasivos até o tratamento, não estaríamos, atualmente, diante de uma medicina que ajuda a cronificar a doença e também, muito pouco preocupada com prevenção e, quase nunca focada em atacar as causas da doença? Não estaríamos diante da medicina que, abusivamente, medicaliza a saúde e que concebe a doença como um ser abstrato, um ente desconectado do corpo, e pensa o paciente descolado do seu estilo de vida e fatiado em órgãos e partes?Autor: Gilson Dantas
Na atual medicina, as queixas ou
sofrimentos das pessoas enfermas são vistos - e, como decorrência, manejados -
em termos mecanicistas, quase em uma tentativa de ´patologizar´ o paciente”. E
acontece que nenhuma hipertensão é apenas uma hipertensão e nenhuma bursite é
apenas uma inflamação do ombro. Essa maneira de pensar é perigosa para o
paciente e empobrecedora do ponto de vista médico. No entanto, no método de
pensar do médico alienado, o chamado enfermo terminará
sendo reduzido a pouco mais que uma
hipertensão, uma próstata, uma inflamação no ombro.
Ao mesmo tempo, provavelmente o médico
não irá entrar em uma parceria ativa com aquela pessoa para discutir por que
você, pessoa singular, apresenta uma pressão arterial elevada.
Que processos orgânicos e de vida
levaram à sua hipertensão, por exemplo.
O médico alienado, no entanto, estará
preocupado em suprimir sintomas, tornar você dependente de drogas, e muito
pouco em buscar saber qual o processo de fundo que precisa ser corrigido e que
levou àquele sintoma ou doença.
Ele não quer saber se é deficiência de
magnésio, se é uma dieta que compromete a fluidez do sangue, se o estresse
crônico no trabalho é crucial, se sua hipertensão é efeito colateral do uso de
medicamentos para outras doenças e por aí afora.
E quanto aos elementos do seu entorno,
tende, solenemente, a ignorá-los. Ele vai medicar a hipertensão. E ponto. Ele
se comunica apenas com o sintoma e com os laudos de exames invasivos.
O objetivo deste livro é problematizar
tais questões e tematizar a necessidade imperiosa de uma mudança. Que passa
pela revolução social na perspectiva dos trabalhadores. Mas que cobra, ao mesmo
tempo, uma revolução no modo de pensar e fazer medicina, para que esta rompa
com sua condição atual, de medicina dos sintomas e dos laudos e assuma,
finalmente, sua vocação como como medicina da saúde, medicina social e não da
doença, e renuncie a funcionar como paliativo de um sistema social degradado e
desigual e que a própria medicina, alienada como está, faz o possível para
isentar e naturalizar.
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